Onde estão meus amigos gays?

Cheguei mais cedo. Muito mais cedo. Quinze minutos antes do horário marcado para ser mais exata. Os outros nem chegaram ainda (putz). Bar razoavelmente cheio. Aquela sensação antiga de quem não sabe aonde pôr as mãos atacou de novo. PQP! Dou uma olhada geral como quem é normal e é super segura. Mas até o arrastar das cadeiras parecem falar meu nome.

Paro na esquina ou um pouco abaixo dela e fico ao lado de um picolé dos correios (aquelas caixinhas onde as pessoas depositam cartas seladas). Me sentí um sinal de trânsito, um triângulo de transgênicos gigante. Queria muito sacar meu celular e ligar para um amigo gay descolado, que me fizesse parar de me sentir aquela marmota e me tornasse poderosa e absoluta. Um que entendesse meus faniquitos e as nóias que me ocorriam naquele momento. Eles, sempre eles, entendem minhas esquisitices. Mas não, acho que não cabia ligação pra ninguém; não naquele momento. Afinal, não havia motivo nem explicação plausível. Além disso acham-me segura demais e iam perguntar o que eu havia feito pra ficar daquele jeito.

Mil ônibus passavam por mim, mil carros também e eu pensando com minha mente paranóica: todos me olham, me conhecem (aff...).

A todo momento espero ouvir um grito de "Cláudia Bragaaaaaaaa"! Queria virar um tatu. Meu telefone toca. O Pessoal ainda nem saiu e pede para que eu escolha uma mesa. Ligo o foda-se, adentro o recinto sem olhar para os lados. Esqueço de dar boa noite ao garçom gentil que me recebe e já vou logo falando "Vou sentar-me aqui e quero uma água tônica com limão e gelo. A propósito, boa noite." Ele riu.

Sentei-me e para aplacar a síndrome de pseudopânico-timidez-jacuzisse-aguda, saco minha agenda e minha lapiseira da bolsa e deixo esvair em palavras todo e qualquer vestígio do que me afligia.

Ops! Tem um limão delicioso no copo, escolhí uma mesa bacana e o garçom legal trouxe o cadápio. Tudo certo, certíssimo. Nada como falar no silêncio. Este é o meu melhor.

Simplesmente aconteceu.

24/09/08 - 19h08