Uma declaração de amor

VINCENT

Se sua tinta eu fosse,
que cor eu seria?
Em que tela me pintaria?
(é pretensão, e daí?)

Minha admiração por ti
não cabe em nenhum papel.
Sou maldita e não poeta,
não sei fazer com as letras
o que fizeste com o pincel.

Mas tua coragem me inspira.
Sei das viagens que te cercaram.
Não foram campos nem girassóis,
conheço os gritos do teu imaginário.

Que te fizeram arrancar a orelha,
não por causa de um quadro,
mas pra não ouvir o mundo.
Vozes presas em tua mente,
que impressões em tinta retrataram.

Ensina-me a ser feliz no meu mundo,
fazer do meu jeito,
mesmo que malfeito.

Pintar minha vida
com uma cor vibrante,
fazer, mesmo que só pra mim, algo grande.
Sem medo de me entregar
ao delírio alucinante.

Mas entendi o que ensinaste.
Eu quero criar contrastes,
na vida captar diferenças.
Degustar do teu legado
o que de melhor de ti restaste.

A luz do teu trabalho, Vincent,
é da natureza a mais bela e intensa.
Tão forte quanto a vida,
tão certa quanto a morte.

Brilha igual para os loucos,
brilha diferente pro resto.
Dane-se o mundo, se eu não presto.
Só sei que quem nasceu
pra ser normal e “honesto”
jamais terá alma de Van Gogh.


(Para o homem cuja loucura me fascina e o talento me perturba).
Electra Natchios – 25/10/2002

Comentários

  1. Caracaveí, que lindo!
    Por instantes tive inveja de não ser Gogh.
    Parabéns Electra.
    (E.Navarre)

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