Aonde realmente estamos?

Ontem ao ligar para uma empresa que me atende no setor de impressão fui surpreendida com o seguinte diálogo:

- Boa tarde!

- Boa tarde. Eu gostaria de falar no setor de produção.

- Qual a pessoa que te atende neste setor?

- Humm (eu tentando me lembrar)... acho que o nome é Ana Paula. Isso, Ana Paula.

- Obrigada pela informação senhora, vou transferí-la para o setor que a partir de agora passou a se chamar corporativo 03.

- Minha ligação foi transferida e uma voz feminina me atende, eu ironicamente não sabia se me referia a ela como Ana Paula ou corporativo 03. Aí decidí perguntar. Ana Paula?

- Sim, sou eu

- Meu nome é Cláudia Braga, mandei para a produção uns trabalhos por email e gostaria de saber se há alguma dúvida ou até mesmo previsão de entrega.

Ela me diz que vai checar com a "Célula". 

Eu penso (Hã?, Heim? Como assim?). Ela volta e me diz que o trabalho está quase pronto e que será entregue em uma hora. Que a partir de então a minha agência será atendida por uma célula composta por 3 elementos x. Muito educada em sua explicação e em sua despedida, agradeço e desligo ainda com uma certa sensação de "sei lá-entende?!". Tudo é impessoal, não há nomes. As empresas viraram corporações e são de vários países. Não têm cara. Isso não é organização: é uma forma de tornar tudo mais descartável. Não se trocam pessoas. Trocam-se peças de um tabuleiro, ou de uma máquina. É uma maquiagem perfeita, como a risada mortal do coringa. Enquanto o mundo se rende à big brothers, contratos milionários de jogadores de futebol, escândalos nojentos de políticos inescrupulosos esfregados em nossas caras, da magreza esquálida de modelos de infâncias perdidas, Copa do mundo chegando, tudo tampona o que Aldous Huxley previa em 1932: o admirável mundo novo. Pára tudo que eu quero descer. Ah! E dêem-me a pílula vermelha. Quero continuar me indignando e vendo a matrix por dentro.